Benvindos ao meu blog. Só mais um para aumentar a comunidade do blogger.
Como o tempo livre é muito e porque adoro ser irónico, (pois afinal de contas o tempo até nem é muito,
mas se o dissesse já não estava a ser irónico e, como acabei por dizê-lo à mesma, acabo por ser irónico ao afirmar que não o era)
é apenas mais um novo projecto na minha vida. Espero que gostem...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Toda a lógica da questão

Regressemos às curiosidades da Matemática. Curiosidades que, por serem tão peculiares, vão entrar em colapso com a nossa forma de ver as coisas. O que responder quando alguém nos diz que “todos os elefantes são vermelhos”? Ou que “todos os pianos têm apenas 12 teclas”? Ou ainda que “todos os pinguins vivem no Pólo Norte”? Mais: “todos os diamantes são «duproquebradiços»”? Confesso que não foi fácil encontrar uma palavra foneticamente agradável que não constasse no dicionário português… Claro que podemos sempre pensar que a pessoa que afirma tais coisas não joga com os dados todos. Contudo há que responder com o mesmo nível de raciocínio e, provavelmente, isso vai requerer um certo requinte na nossa resposta… Se calhar, as ideias absurdas que às vezes nos são transmitidas (pensamos nós que são absurdas!) são, na realidade, verdadeiras obras de arte no complexo mecanismo que dita as leis do raciocínio. Bem! Em primeiro lugar, o leitor poderá questionar a relação entre as últimas sentenças e a Matemática. A realidade é que a Matemática ocupa-se precisamente destas coisas: o estudo do raciocínio. E também do estudo do estudo do raciocínio. E ainda do estudo do estudo do estudo do raciocínio… A cadeia é infindável e apenas as mentes mais brilhantes conseguem atingir o terceiro nível. Neste momento a minha mente fervilha de curiosidades para escrever e a minha vontade é colocá-las imediatamente aqui, neste blog, sem mais perdas de tempo. Mas tenho que ir com calma e explicar umas coisas primeiro… Talvez os computadores sejam «ambipalpotentes» e, um dia, tal seja possível…!
O último parágrafo revela a ocupação da maior parte dos filósofos de hoje em dia. Mesmo na linguagem do quotidiano é necessário criar um sistema coerente onde as afirmações façam sempre sentido, ou não, independentemente da interpretação da mesma (desde que, claro está, tal interpretação esteja inserida no mesmo sistema). Esse sistema baseia-se na lógica matemática. Na realidade uma gramática de português é um manual maravilhoso de matemática. Não acredita? Vejamos:
RACIOCÍNIO E METALINGUAGEM
Os alicerces do nosso conhecimento.
Hoje em dia os filósofos debatem acerca de todos os tipos de raciocínio que a nossa massa cinzenta é capaz de produzir. A meu ver, e no espírito de cientista, existem dois grandes tipos de raciocínio nos quais se incluem, directa ou indirectamente, todos os outros: A Dedução e a Indução. Decerto que, se estudou filosofia no ensino secundário, recorda-se destes termos. Mas para debater as ideias da Dedução e da Indução, é necessário primeiro abordar alguns pilares da Lógica de Primeira Ordem, assim chamada numa tentativa de mecanizar, como uma grande linha de montagem, o nosso pensamento: desde a matéria prima à caixa de sapatos…
No caso do pensamento lógico, as matérias primas são os chamados termos e conceitos. Termos são os nomes pelos quais chamamos as coisas. Por exemplo “bola de futebol”, “rio Tejo” ou “avestruz”. Os conceitos são os significados que lhes estão associados:
Bola de Futebol – superfície esférica, normalmente feita de couro, oca, cujo diâmetro mede aproximadamente 22 centímetros; o seu peso deve variar entre 410 e 450 gramas e a sua pressão no interior deve medir entre 0,6 e 1,1 atmosferas (aproximadamente entre 60,8 e 111,5 kPa) a zero metros de altitude.
Rio Tejo – curso de água mais extenso da Península Ibérica (cerca de 1007 km de extensão); a sua nascente situa-se em Espanha na Serra de Albarracín (a pouco mais de 1500 metros de altitude); desagua em Portugal na cidade de Lisboa.
Avestruz – (Struthio camelus) espécie animal pertencente à classe das aves originárias do continente africano; apesar de ser uma ave não voa; considerada por muitos a maior ave existente no planeta na actualidade; podem atingir os 150 kg de peso e os 2,5 metros de altura.
Para tornar a última noção mais “matemática” podemos pensar em conceitos como: “dois”, “multiplicação” ou “conjunto”. Termos e conceitos, por si só, não podem ser classificados como verdadeiros ou falsos. O que fazemos a seguir é combiná-los de modo a obter afirmações cujo valor lógico já pode ser determinado. Tal processo é exactamente o alicerce tanto da linguagem corrente (no nosso caso, o português), como da linguagem matemática. Essas afirmações, ou proposições, são sempre verdadeiras ou falsas, mesmo que não conheçamos a resposta, não existindo uma terceira opção para a sua classificação.
• PROPOSIÇÕES VERDADEIRAS:
«As bolas de futebol são redondas»    ou    « 1 + 0 = 1 »
• PROPOSIÇÕES FALSAS:
«O rio Tejo nasce na Serra da Estrela»    ou    «Um triângulo pode ter dois ângulos internos rectos»
• PROPOSIÇÕES COM VALOR LÓGICO DESCONHECIDO:
«As avestruzes vão extinguir-se em 2013»    ou    «Existem números perfeitos ímpares»
A última proposição diz respeito a uma conhecidíssima questão matemática ainda por resolver (talvez num futuro próximo). Claro que, o nosso senso comum, diz-nos que é pouco provável que as avestruzes se extingam daqui a dois anos. O que está em causa, no entanto, não é a capacidade de garantirmos a veracidade ou a falsidade da questão. A única coisa que podemos garantir é que a proposição é verdadeira (esperemos que não em prol do bem-estar das avestruzes) ou falsa e não existe uma terceira possibilidade.
As proposições apresentadas inserem-se no primeiro nível da nossa linguagem: a primeira metalinguagem ou metalinguagem de primeira ordem. Qualquer pessoa saudável consegue atingir este nível de metalinguagem. Mas quando classificamos os mecanismos da primeira metalinguagem, subimos um degrau numa escala de complexidade exponencialmente crescente: a segunda metalinguagem ou metalinguagem de segunda ordem. É neste nível que algumas coisas interessantes acontecem. É também nesta fase que entram os dois tipos principais de raciocínio: a Dedução, que assenta numa série de regras de inferência de modo a concluir a veracidade ou falsidade de algo e a Indução que objectiva a mesma conclusão baseando-se, contudo, em inúmeras observações.
Pode-se, por exemplo, concluir que a proposição «O rio Tejo nasce na Serra da Estrela» é falsa por dedução. Como se viu, no conceito de “rio Tejo”, este nasce na Serra de Albarracín. Logo não pode nascer na Serra da Estrela e, portanto, a proposição é falsa. Já a proposição «As bolas de futebol são redondas» é verdadeira por indução. Alguma vez viu uma bola de futebol que não fosse redonda??? Os inúmeros exemplos que já presenciámos nas nossas vidas e as inúmeras bolas de futebol que já vimos, permite-nos afirmar confortavelmente que todas as bolas de futebol são assim.
O MECANISMO DA DEDUÇÃO
Regras para que te quero…
Para compreender este tópico vejo-me obrigado a apelar à sua capacidade de concentração. O que vamos avaliar aqui é a veracidade dos vários mecanismos dedutivos que utilizamos para tirar conclusões verdadeiras. Apimento-lhe desde já a curiosidade com a frase «Se as bolas de futebol são cúbicas então o rio Tejo nasce na Serra da Estrela» que, garanto-lhe ser INDUBITAVELMENTE verdadeira! Será o primeiro parágrafo deste blog inteiramente dedicado à metalinguagem de segunda ordem. O leitor está pronto para começar?
Começamos com as três regras básicas da inferência: a conjunção, a disjunção e a negação. A conjunção e a disjunção tratam da veracidade ou falsidade da relação entre duas proposições de metalinguagem de primeira ordem. A conjunção utiliza normalmente a palavra “e” enquanto que a disjunção utiliza a palavra “ou”. A negação é uma regra aplicável a apenas uma proposição metalinguística de primeira ordem e recorre à palavra “não” para se exprimir no nosso dia-a-dia.
AS CONJUNÇÕES
Frases como:
As galinhas são aves e os gatos são mamíferos,
As galinhas são aves e os gatos são anfíbios,
As galinhas são répteis e os gatos são mamíferos ou
As galinhas são répteis e os gatos são anfíbios
são exemplos de conjunções. Identificamo-las pelo elemento “e” que liga, em todos os quatro casos, as duas proposições de metalinguagem de primeira ordem. Das quatro frases anteriores apenas uma é verdadeira. Consegue identificá-la? É natural que sim. A primeira proposição «As galinhas são aves e os gatos são mamíferos» é a única verdadeira de entre as quatro. Portanto uma conjunção é verdadeira se as duas proposições envolvidas forem simultaneamente verdadeiras.
Para esquematizar este tipo de raciocínio, os filósofos e matemáticos de outrora desenvolveram uma técnica fácil e infalível: as tabelas de verdade. Para tal representamos as duas proposições envolvidas por duas letras, normalmente p e q. O que fazemos a seguir é indicar o valor lógico da conjugação entre p e q (que se representa por p Λ q) em função dos vários valores lógicos possíveis para p e q. Utilizam-se as letras V e F para indicar se as várias proposições são verdadeiras ou falsas respectivamente.
CONJUNÇÃO
p
q
p Λ q
V
V
V
V
F
F
F
V
F
F
F
F
Tenha em conta que «A Terra é um planeta» e que « 5⁸ = 390 625 » são proposições verdadeiras em metalinguagem de primeira ordem. Consegue indicar se as conjunções seguintes são verdadeiras? Experimente:

ALGUMAS CONJUNÇÕES
 proposições
valor lógico
resposta
 A Terra é um planeta e 5⁸ = 10
 A Terra é um planeta e 5⁸ = 390 625
 A Terra é uma estrela e 5⁸ = 390 625
 A Terra é um cometa e 5⁸ = 390 625
AS DISJUNÇÕES
Dado o significado da palavra “ou” atribuído pela maior parte das pessoas a veracidade das disjunções é um pouco mais difícil de avaliar. Retomemos os exemplos das classes das galinhas e dos gatos:
As galinhas são aves ou os gatos são mamíferos,
As galinhas são aves ou os gatos são anfíbios,
As galinhas são répteis ou os gatos são mamíferos ou
As galinhas são répteis ou os gatos são anfíbios
Das últimas quatro disjunções, apenas uma é falsa. A primeira não oferece dificuldades de maior uma vez que tanto a proposição «As galinhas são aves» como a proposição «Os gatos são mamíferos» são verdadeiras. As duas disjunções seguintes contêm uma proposição verdadeira e uma proposição falsa. A partícula “ou” permite garantir a veracidade da disjunção se, pelo menos, uma das afirmações for verdadeira. Assim, uma disjunção é falsa apenas se todas as proposições nela envolvidas forem falsas.
Se representarmos uma disjunção por p V q , a sua tabela de verdade tem o aspecto seguinte:
DISJUNÇÃO
p
q
p V q
V
V
V
V
F
V
F
V
V
F
F
F
Utilize os exemplos do ponto anterior para verificar se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas. Não se precipite e responda com calma.

ALGUMAS DISJUNÇÕES
 proposições
valor lógico
resposta
 A Terra é um planeta ou 5⁸ = 10
 A Terra é um planeta ou 5⁸ = 390 625
 A Terra é uma estrela ou 5⁸ = 390 625
 A Terra é um cometa ou 5⁸ = 10
AS NEGAÇÕES
Tal como nos diz a intuição linguística, a negação de uma proposição muda-lhe o valor lógico, isto é, a negação de uma proposição verdadeira é uma proposição falsa e vice-versa. São exemplos de negações:
As galinhas não são aves,
Os gatos não são mamíferos,
As galinhas não são répteis ou
Os gatos não são anfíbios
A partícula linguística nas negações é, evidentemente, a palavra “não”. Das últimas quatro proposições é fácil constatar que as primeiras duas são falsas enquanto que as últimas duas são verdadeiras.
Se representarmos uma negação por ¬p , a sua tabela de verdade toma a forma:
NEGAÇÃO
p
¬p
V
F
F
V
Ainda em relação aos exemplos dos últimos exercícios, indique o valor lógico das seguintes negações:

ALGUMAS NEGAÇÕES
 proposições
valor lógico
resposta
 A Terra não é um planeta
 5⁸ ≠ 10
 5⁸ ≠ 390 625
 A Terra não é um cometa
Façamos, para já, uma pausa no prosseguimento das regras de inferência dedutiva, pois é nesta fase que começam a surgir os problemas…! Na realidade, todas as regras que se seguem podem ser decompostas em conjunções, disjunções e negações. Estas três são, na verdade, os alicerces do nosso raciocínio dedutivo. Mas os paradoxos que lhes são adjacentes tornam a vida dos filósofos de hoje em dia numa autêntica montanha russa de pensamentos.
Tudo acontece quando as proposições metalinguísticas de primeira ordem incidem sobre o seu próprio valor lógico ou sobre a sua própria estrutura. Por exemplo as proposições «Esta frase tem cinco palavras» e «As galinhas são aves» contradizem um pormenor que julgávamos ser coerentemente verdadeiro. Repare que ambas as proposições são verdadeiras. No entanto, as sua conjunção «Esta frase tem cinco palavras e as galinhas são aves» é evidentemente uma proposição falsa, uma vez que esta nova proposição constitui uma frase com mais de cinco palavras. Ao que tudo indica, este exemplo parece sugerir que, em certos casos, se tem:
CONJUNÇÃO??
p
q
p Λ q
V
V
F

No exemplo, inspirado no anterior, as proposições «Esta frase tem dez palavras» e «As galinhas são répteis» lidamos com duas proposições falsas. A sua disjunção «Esta frase tem dez palavras ou as galinhas são répteis» é uma proposição verdadeira. Parece então que encontrámos um exemplo onde:
DISJUNÇÃO??
p
q
p V q
F
F
V

Mesmo na negação, com um pouco de dedicação, vamos encontrar casos estranhos. A proposição «Esta frase tem seis palavras» é evidentemente falsa. A sua negação «Esta frase não tem seis palavras» é, como é evidente, falsa também. E agora? Até a negação, aquela regra de inferência com que lidamos desde muito cedo, apresenta falhas? Parece que encontrámos um caso onde:
NEGAÇÃO??
p
¬p
F
F
Não se deixe iludir pelos últimos exemplos. As frases que utilizei são inconcebíveis e não devem ser formuladas num discurso coerente. Mesmo esta última frase que escrevi é uma frase inconcebível uma vez que as frases exemplificadas não devem ser chamadas de “frases”. E a última frase é também inconcebível pois denomina por “frase” uma coisa que não o é.
Se pretender, pode elevar o grau da metalinguagem referindo indefinidamente a recorrência utilizada no parágrafo anterior. Se conseguir prosseguir, então parabéns…  O leitor é um génio…!
Para resolver este tipo de questões, o famoso matemático e filósofo britânico Bertrand Russel (1872 – 1970) desenvolveu a famosa Teoria dos Tipos. Trata-se de, no fundo, uma teoria matemática de Conjuntos mas perfeitamente aplicável à teoria das Proposições. Para Russel, as proposições devem ser colocadas numa hierarquia de valores lógicos. Assim, uma proposição nunca se deve referir a si própria, nem quanto ao seu valor lógico nem quanto à sua estrutura. Os conjuntos de palavras que exemplifiquei anteriormente (atrever-me-ei a chamar-lhes de frases e recomeçar aquele ciclo vicioso???) pura e simplesmente não são frases. Portanto se alguém lhe disser «Esta frase tem cinco palavras» pode responder com «Isso, para começar, nem sequer é uma frase» elevando a metalinguagem elegantemente dizendo em seguida «E a última frase que disse tem oito palavras». Se pretender ser ainda mais elegante, prossiga com «E a última frase que disse tem vinte palavras» concluindo coerentemente com uma metalinguagem ainda superior «A minha última frase é falsa».
Claro que há mais partículas que ligam duas (ou mais) proposições, entre as quais as implicações (partícula: “então”), os condicionais (partícula: “se”), as equivalências (partícula: “se e apenas se”) e as disjunções exclusivas (partícula: “Ou... ou”). Todas estas, no entanto, podem decompor-se em conjunções, disjunções e negações. Para perceber como funcionam, temos as seguintes tabelas de verdade:
IMPLICAÇÃO
CONDICIONAL
EQUIVALÊNCIA
OU EXCLUSIVO
p
q
p =>  q p <=  q p <=>  q p V q
V
V
V
V
V
F
V
F
F
V
F
V
F
V
V
F
F
V
F
F
V
V
V
F

No campo das implicações encontramos alguns exemplos à primeira vista absurdos. Regressemos às classificações taxionómicas das galinhas e dos gatos:
Se as galinhas são aves então os gatos são mamíferos,
Se as galinhas são aves então os gatos são anfíbios,
Se as galinhas são répteis então os gatos são mamíferos ou
Se as galinhas são répteis então os gatos são anfíbios
Note que, de entre estes exemplos, apenas um diz respeito a uma proposição falsa: «Se as galinhas são aves então os gatos são anfíbios». As restantes são verdadeiras. É também neste parágrafo que relembro a proposição «Se as bolas de futebol são cúbicas então o rio Tejo nasce na Serra da Estrela» que garanti no início deste tópico ser verdadeira (consegue perceber porquê?!). Bem…! Na realidade, explicar o porquê de tal acontecer não é fácil. Mas vou tentar… Certamente que não é complicado analisar as duas primeiras proposições que começam com «Se as galinhas são aves então…». Naturalmente que «As galinhas são aves» é uma proposição verdadeira. Se uma implicação começa com uma proposição verdadeira o seu valor lógico final dependerá apenas do valor lógico da proposição implicada. Daí a proposição ser verdadeira se terminar com «…os gatos são mamíferos» e falsa se terminar com «…os gatos são anfíbios». Mesmo a última proposição «Se as galinhas são répteis então os gatos são anfíbios» não oferece dificuldades de maior. Ora se, realmente, nem as galinhas são répteis nem os gatos são anfíbios, é de esperar que o facto da falsidade da primeira proposição implicar a falsidade da segunda, seja, de facto, um facto verdadeiro…!!!
O problema reside na terceira linha da respectiva tabela de verdade ou na terceira proposição apresentada «Se as galinhas são répteis então os gatos são mamíferos». No entanto, tal como na última proposição exemplificada, quando a proposição antecedente é falsa o resultado é sempre verdadeiro, independentemente do valor lógico da proposição consequente. Isto porque não é usual utilizar implicações quando se sabe que, à priori, que a proposição antecedente é falsa. Contudo, a conclusão EM SI, e não as proposições individuais, é verdadeira em ambos os casos.
Nos condicionais deparamo-nos com implicações em “sentido contrário”. As justificações são, em geral, idênticas ao caso anterior. Basta concluir que, por exemplo, dizer que «Se as galinhas são aves então os gatos são mamíferos» é o mesmo que dizer que «Os gatos são mamíferos se as galinhas são aves». As quatro frases seguintes ditam as implicações em sentido contrário das anteriores:
As galinhas são aves se os gatos são mamíferos,
As galinhas são aves se os gatos são anfíbios,
As galinhas são répteis se os gatos são mamíferos ou
As galinhas são répteis se os gatos são anfíbios
As equivalências, ou implicações em sentido duplo, são verdadeiras nos casos em que ambas as proposições têm o mesmo valor lógico e falsas caso contrário.
As galinhas são aves se e só se os gatos são mamíferos,
As galinhas são aves se e só se os gatos são anfíbios,
As galinhas são répteis se e só se os gatos são mamíferos ou
As galinhas são répteis se e só se os gatos são anfíbios
Destas equivalências, a primeira e a última são verdadeiras porque, em ambos os casos, conjugámos proposições simultaneamente verdadeiras (primeira proposição) ou simultaneamente falsas (última proposição). As restantes são proposições falsas pois envolvem proposições com valores lógicos diferentes.
Finalmente, relativamente à disjunção exclusiva, temos proposições verdadeiras apenas quando lidamos com uma proposição verdadeira e uma proposição falsa. De uma forma muito grosseira trata-se da situação contrária à equivalência.
Ou as galinhas são aves ou os gatos são mamíferos,
Ou as galinhas são aves ou os gatos são anfíbios,
Ou as galinhas são répteis ou os gatos são mamíferos ou
Ou as galinhas são répteis ou os gatos são anfíbios
Relembre que «A Terra é um planeta» e « 5⁸ = 390 625 » são proposições verdadeiras e verifique se consegue determinar a veracidade das seguintes proposições:

ALGUMAS PROPOSIÇÕES
 proposições
valor lógico
resposta
 Se a Terra é um planeta então 5⁸ ≠ 390 625
 A Terra é um planeta se 5⁸ = 390 625
 A Terra é um cometa se 5⁸ = 390 625
 A Terra é um cometa se 5⁸ ≠ 10
 Se a Terra é um cometa então 5⁸ = 390 625
 Se a Terra é um cometa então 5⁸ ≠ 390 625
 A Terra é um cometa se e só se 5⁸ = 10
 A Terra é um cometa se e só se 5⁸ ≠ 10
 A Terra é um planeta se e só se 5⁸ = 390 625
 Ou a Terra é um planeta ou 5⁸ = 390 625
 Ou a Terra é um cometa ou 5⁸ = 390 625
 Ou a Terra é um cometa ou 5⁸ ≠ 10
A TERCEIRA ORDEM DA METALINGUAGEM
O degrau seguinte.
Vamos agora um pouco mais longe (ainda???) e analisar as várias relações existentes entre as regras de inferência utilizadas no último tópico. É nesta fase que vamos encontrar as tautologias e as contradições, proposições de terceira metalinguagem verdadeiras ou falsas, respectivamente. Uma tautologia define-se então como uma proposição verdadeira independentemente do valor lógico das proposições de primeira metalinguagem nelas envolvidas. Nas mesmas condições, uma contradição é sempre uma proposição falsa. É nesta fase que vamos encontrar várias formas equivalentes de afirmar o mesmo. Depois da análise da equivalência, se encontrarmos uma tautologia então estamos perante um novo teorema, uma nova lei, uma nova conclusão viável. Uma vez que a negação de uma tautologia é uma contradição, e vice-versa, o cenário é idêntico caso nos deparemos com conclusões sempre falsas.
• COMUTATIVIDADE
Daqui agora resulta novo conjunto de regras e frases ainda mais estranhas. Uma das regras mais simples é a comutatividade. Esta aplica-se tanto às conjunções como às disjunções e limita-se a afirmar que, tanto uma como outra, não altera o seu valor lógico quando trocamos as proposições entre si.
As galinhas são aves e os gatos são mamíferos se e só se os gatos são mamíferos e as galinhas são aves,
As galinhas são aves e os gatos são anfíbios se e só se os gatos são anfíbios e as galinhas são aves,
As galinhas são répteis e os gatos são mamíferos se e só se os gatos são mamíferos e as galinhas são répteis ou
As galinhas são répteis e os gatos são anfíbios se e só se os gatos são anfíbios e as galinhas são répteis
Todas as proposições anteriores são verdadeiras (consegue perceber porquê?). Agora, no novo degrau metalinguístico, não é a classe das galinhas nem a classe dos gatos que interessam ao valor lógico de toda a proposição. O que interessa à terceira metalinguagem é se o valor lógico da proposição antecedente «As galinhas são… e os gatos são…» é, ou não, igual ao valor lógico da proposições consequente «Os gatos são… e as galinhas são…» sejam elas verdadeiras ou falsas. No que diz respeito às disjunções a regra é similar:
As galinhas são aves ou os gatos são mamíferos se e só se os gatos são mamíferos ou  as galinhas são aves,
As galinhas são aves ou  os gatos são anfíbios se e só se os gatos são anfíbios ou  as galinhas são aves,
As galinhas são répteis ou  os gatos são mamíferos se e só se os gatos são mamíferos ou  as galinhas são répteis ou
As galinhas são répteis ou  os gatos são anfíbios se e só se os gatos são anfíbios ou  as galinhas são répteis
As tabelas de verdade ficam com a forma:
COMUTATIVIDADE DA CONJUNÇÃO
p
q
p Λ q
q Λ p
(p Λ q)<=> (q Λ p)
V
V
V
V
V
V
F
F
F
V
F
V
F
F
V
F
F
F
F
V

COMUTATIVIDADE DA DISJUNÇÃO
p
q
p V q
q V p
(p V q)<=> (q V p)
V
V
V
V
V
V
F
V
V
V
F
V
V
V
V
F
F
F
F
V

Note que, na última coluna de ambas as tabelas apenas surgem V’s, o que significa que estamos perante tautologias. Entre outros exemplos temos ainda as propriedades (explícitas de uma forma resumida):
• IDEMPOTÊNCIA
As galinhas são aves se e só se as galinhas são aves e as galinhas são aves ou
As galinhas são répteis se e só se as galinhas são répteis e as galinhas são répteis
IDEMPOTÊNCIA DA CONJUNÇÃO
p
p Λ p
p <=> (p Λ p)
V
V
V
F
F
V

As galinhas são aves se e só se as galinhas são aves ou as galinhas são aves ou
As galinhas são répteis se e só se as galinhas são répteis ou as galinhas são répteis
IDEMPOTÊNCIA DA DISJUNÇÃO
p
p V p
p <=> (p V p)
V
V
V
F
F
V

• DUPLA NEGAÇÃO
As galinhas são aves se e só se for mentira que as galinhas não são aves ou
As galinhas são répteis se e só se for mentira que as galinhas não são répteis
DUPLA NEGAÇÃO
p
¬p
¬(¬p)
p <=> [¬(¬p)]
V
F
V
V
F
V
F
V
• ASSOCIATIVIDADE
As galinhas e os gatos são, respectivamente, aves e mamíferos e os gafanhotos são insectos se e só se as galinhas são aves e os gatos e os gafanhotos são, respectivamente, mamíferos e insectos,
As galinhas e os gatos são, respectivamente, aves e mamíferos e os gafanhotos são peixes se e só se as galinhas são aves e os gatos e os gafanhotos são, respectivamente, mamíferos e peixes,
As galinhas e os gatos são, respectivamente, aves e anfíbios e os gafanhotos são insectos se e só se as galinhas são aves e os gatos e os gafanhotos são, respectivamente, anfíbios e insectos,
As galinhas e os gatos são, respectivamente, aves e anfíbios e os gafanhotos são peixes se e só se as galinhas são aves e os gatos e os gafanhotos são, respectivamente, anfíbios e peixes,...
ASSOCIATIVIDADE DA CONJUNÇÃO
p
q
r
p Λ q
(p Λ q) Λ r
q Λ r
p Λ (q Λ r)
[(p Λ q) Λ r]  <=> [p Λ (q Λ r)]
V
V
V
V
V
V
V
V
V
V
F
V
F
F
F
V
V
F
V
F
F
F
F
V
V
F
F
F
F
F
F
V
F
V
V
F
F
V
F
V
F
V
F
F
F
F
F
V
F
F
V
F
F
F
F
V
F
F
F
F
F
F
F
V

As galinhas ou os gatos são, respectivamente, répteis e mamíferos ou os gafanhotos são insectos se e só se as galinhas são répteis ou os gatos ou os gafanhotos são, respectivamente, mamíferos e insectos,
As galinhas ou os gatos são, respectivamente, répteis e mamíferos ou os gafanhotos são peixes se e só se as galinhas são répteis ou os gatos ou os gafanhotos são, respectivamente, mamíferos e peixes,
As galinhas ou os gatos são, respectivamente, répteis e anfíbios ou os gafanhotos são insectos se e só se as galinhas são répteis ou os gatos ou os gafanhotos são, respectivamente, anfíbios e insectos,
As galinhas ou os gatos são, respectivamente, répteis e anfíbios ou os gafanhotos são peixes se e só se as galinhas são répteis ou os gatos ou os gafanhotos são, respectivamente, anfíbios e peixes,...
ASSOCIATIVIDADE DA DISJUNÇÃO
p
q
r
p V q
(p V q) V r
q V r
p V (q V r)
[(p V q) V r]  <=> [p V (q V r)]
V
V
V
V
V
V
V
V
V
V
F
V
V
V
V
V
V
F
V
V
V
V
V
V
V
F
F
V
V
F
V
V
F
V
V
V
V
V
V
V
F
V
F
V
V
V
V
V
F
F
V
F
V
V
V
V
F
F
F
F
F
F
F
V

Poderia prosseguir com inúmeras regras e tautologias, mas isso tornar-se-ia demasiado exaustivo. Assim, com o intuito de prosseguir ao encontro da introdução deste post, apresentarei apenas mais uma inferência: a contra-recíproca:
• CONTRA-RECIPROCIDADE
A tautologia que diz respeito à proposição contra-recíproca é, sem dúvida, uma das mais utilizadas regras na obtenção de demonstrações em matemática. Para quem não sabe, uma demonstração é uma prova de um teorema ou, mais geralmente, de uma proposição verdadeira. Utiliza o facto da implicação num certo sentido ser logicamente equivalente à implicação no sentido contrário das negações das proposições iniciais. Utilizemos uma implicação simples da forma «Todos os gatos miam». Claro que se trata de uma implicação uma vez que é uma frase verbalmente simplificada de «Se uma coisa é um gato então essa coisa mia». A proposição contra-recíproca desta é a frase Se uma coisa não mia então essa coisa não é gato» ou, de uma forma mais simples «Se não mia, não é gato». A tabela de verdade que justifica esta tautologia é:
CONTRA-RECIPROCIDADE
p
q
p =>  q
¬q => ¬p
(p =>  q)<=> (¬q => ¬p)
V
V
V
V
V
V
F
F
F
V
F
V
V
V
V
F
F
V
V
V
Voltemos aos gatos e às galinhas:
As galinhas são aves implica que os gatos são mamíferos se e só se os gatos não são mamíferos implica que as galinhas não são aves,
As galinhas são aves implica que os gatos são anfíbios se e só se os gatos não são anfíbios implica que as galinhas não são aves,
As galinhas são répteis implica que os gatos são mamíferos se e só se os gatos não são mamíferos implica que as galinhas não são répteis ou
As galinhas são répteis implica que os gatos são anfíbios se e só se os gatos não são anfíbios implica que as galinhas não são répteis
É nesta altura que o leitor tem a legitimidade de escrever um novo destino na sua barra de endereços. Eu compreendo! Contudo, para os mais resistentes, garanto que a coisa vai melhorar... Na realidade, se desistir agora, vai perder conclusões interessantíssimas. Claro que poderia dizer que vai ter a oportunidade de ler tais conclusões se prosseguir a sua leitura... Mas a contra-recíproca parece-me mais persuasiva, não acha?
A veracidade de uma regra de inferência em metalinguagem de terceira ordem pode conduzir-nos a questões surpreendentemente falaciosas quando as tratamos no campo do raciocínio indutivo. Se não, vejamos:
A INDUÇÃO CONTRA-RECÍPROCA
Porque é que os elefantes são vermelhos?!
Ora, se bem se lembra, a veracidade de uma proposição justifica-se, por indução, pela quantidade enorme de exemplos que observamos no nosso dia-a-dia. Relembro-lhe que admite-se que «As bolas de futebol são redondas» é uma proposição verdadeira porque nunca se viu uma bola de futebol que não fosse redonda. Da mesma forma poder-se-á concluir que «Os elefantes são cinzentos», «Os pianos têm 88 teclas» e «Os pinguins vivem no Pólo Sul» são proposições verdadeiras.
Note agora que, se assistir a um jogo de futebol esta noite, vai, quase de certeza, ver pela primeira vez na sua vida aquela bola em jogo. Trata-se de mais um exemplo que reforça a ideia de «As bolas de futebol são redondas» ser uma proposição verdadeira. Isto significa que, à medida que se fabricam cada vez mais bolas de futebol, cada vez mais se verifica a veracidade da proposição.
Mas... E a contra-recíproca desta? Ora a frase «Coisas não redondas não são bolas de futebol» é equivalente à frase «As bolas de futebol são redondas». Então isso garante que, sempre que vê uma coisa não redonda, está, na realidade, a reforçar o facto das bolas de futebol serem redondas... Estranho? Vejamos: Uma tesoura não é redonda. Será uma bola de futebol? Evidentemente que não...
Desta forma, as coisas que não são cinzentas não são elefantes (uma nuvem branca não é um elefante), as coisas que não têm 88 teclas não são pianos (as calculadoras básicas não são pianos) e os animais que não vivem no Pólo Sul não são, evidentemente, pinguins (os pandas não vivem no Pólo Sul e não são pinguins). A nuvem, a calculadora básica e o panda reforçam então a veracidade das afirmações verdadeiras acerca dos elefantes, dos pianos e dos pinguins, respectivamente. Mas agora é que a porca vai torcer o rabo (tantos animais e ainda não tinha referido o porco...!!!).
Já vimos que a contra-recíproca da frase «As bolas de futebol são redondas» é a proposição «Coisas não redondas não são bolas de futebol». Independentemente do seu valor lógico, a contra-recíproca de «As bolas de futebol são cúbicas» é a proposição «Coisas não cúbicas não são bolas de futebol». Vimos também que uma tesoura não é redonda e, portanto, não pode ser uma bola de futebol. Mas também não é cúbica... E isso significa que a forma de uma tesoura tanto prova que «As bolas de futebol são redondas» como «As bolas de futebol são cúbicas». Como pode uma certa proposição provar indutivamente duas coisas tão incompatíveis? Além, claro está, provar indutivamente uma proposição evidentemente falsa (espero que não esteja a pensar que estou a tentar demonstrar que as bolas de futebol são cúbicas...!).
Desta forma, todas as nuvens que observámos na nossa vida visam provar que «Os elefantes são vermelhos». Todas as máquinas de calcular que vemos nas lojas dos chineses reforçam a ideia de que «Os pianos têm apenas 12 teclas». E aqueles pandas giríssimos que aparecem no National Geographic? Dizem-nos que afinal os pinguins vivem no Pólo Norte??
Como resolver esta questão? Por esta ordem de ideias temos:
CONTRA-RECIPROCIDADE INDUTIVA
nuvens brancas
 provam que:
 ● os elefantes são vermelhos
 ● os leopardos são roxos
 ● os melros são cor-de-rosa
 ● os grilos são verdes
calculadoras básicas
 provam que:
 ● os pianos têm apenas 12 teclas
 ● os computadores têm infinitas teclas
 ● os telecomandos têm 2.327 teclas
 ● os telemóveis têm duas teclas e meia
pandas
 provam que:
 ● os pinguins vivem no Pólo Norte
 ● os coalas vivem no fundo do mar
 ● os chimpanzés vivem no Evereste
 ● os seres humanos vivem na Lua
Esta questão filosófica resolve-se, segundo o autor deste fantástico paradoxo Carl Gustav Hempel (1905 – 1997), pela dimensão pouco significativa dos objectos que não são cinzentos em relação aos elefantes. Digamos que um elefante cinzento tem mais peso na veracidade da proposição do que uma nuvem branca. Isto porque, no Universo, existem indiscutivelmente muitos mais objectos não cinzentos do que elefantes. Sendo assim, uma nuvem branca prova, de facto, que um elefante é cinzento. Fá-lo, no entanto, a uma escala infinitesimal.
Há contudo quem contra-argumente e defenda que, se realmente existem muitos mais objectos não cinzentos do que elefantes, na sua totalidade provam tanto, ou ainda mais, que os elefantes são cinzentos. Mas desta forma, a quantidade considerável de objectos não vermelhos que existe no Universo demonstra que os elefantes são, de facto, vermelhos...
Mesmo que tome o partido de Hempel e acredite que APENAS elefantes cinzentos PODEM PROVAR que os elefantes são cinzentos, prometo-lhe ainda uma última surpresa.
O VALOR LÓGICO DESCONHECIDO
A falha da indução.
Para quem o paradoxo de Hempel não passa de uma curiosidade e não deve ser levado a sério, há ainda um pormenor adjacente a todos os elefantes cinzentos que provam precisamente que os elefantes são cinzentos que lhe pode dar a volta à cabeça. Isso porque os incontáveis elefantes cinzentos que já foram observados podem também provar outras coisas...
Defina-se uma nova cor. Uma cor especial... Com propriedades especiais. Chamemos-lhe "cinzemelho". A este novo termo, vamos atribuir o conceito:
Cinzemelho (pl. cinzemelhos) – um objecto cinzemelho tem a capacidade de ser cinzento antes do ano de 2020 d.C. e vermelho depois dessa mesma data.
Tal como um edifício velho ou uma ponte deteriorada, o conceito básico de Raciocínio Indutivo está prestes a ruir. Neste momento é fácil de ver que as proposições «Os elefantes são cinzentos» e «Os elefantes são cinzemelhos» estão IGUALMENTE provadas. Tal significa que, se eu disser a alguém que os elefantes são cinzemelhos (depois de expor o conceito de cinzemelho), não pode haver quem diga que estou a ficar maluco pois, na verdade, todos os elefantes já observados são cinzemelhos.
Estas conclusões permite também afirmar que «Os diamantes são duproquebradiços» ou que «Os computadores são ambipalpotentes». Basta, para o efeito, definir convenientemente os termos:
Duproquebradiço (pl. duproquebradiços) – um objecto duproquebradiço tem a capacidade de ser duro na nossa galáxia e quebradiço na galáxia mais próxima, a galáxia de Andrómeda.
Ambipalpotente (pl. duproquebradiços) – um objecto ambipalpotente tem a capacidade de funcionar quando o tempo está parado.
Tenha em conta que, no campo da Dedução não existe absurdo algum (mas serão estas últimas proposições realmente absurdas?!). Para o Raciocínio Dedutivo estas afirmações detêm um valor lógico desconhecido, isto é, não se sabe se são verdadeiras ou falsas. Tenha em conta também, contudo, que «Os elefantes são cinzentos» é também uma proposição que não se sabe ser verdadeira ou falsa. Não se pode concluir nada acerca da cor dos elefantes a nível dedutivo uma vez que, evidentemente, poderá haver um elefante vermelho algures (ainda não visto por ninguém) que deite por terra a lei que assegurávamos ser correcta.
A maior parte das pessoas poderão pensar que este tipo de conclusões são tiradas por alguém com muito tempo livre. Esta "conversa fiada" não nos leva a lado algum e não constitui qualquer benefício à humanidade. No entanto, lamento desiludir essas pessoas. Os efeitos destas conclusões não afectam naturalmente o nosso dia-a-dia nem a nossa conversação natural. Mas são importantíssimas no desenvolvimento de um ambiente que seja coerente para o avanço das ciências. O conhecimento científico baseia-se na observação. Inúmeras experiências, no entanto, não podem concluir nada como certo. Se eu deixar cair uma maçã no chão vezes sem conta, não posso concluir, apenas a partir desse facto, que ela irá sempre cair. Indutivamente, claro que sei que isso irá sempre acontecer... Mas já vimos que indutivamente os elefantes são cinzemelhos, portanto... Resta-lhe a si fazer o seu juízo de valor e acreditar que a maçã vai cair no chão graças à Lei da Gravitação Universal de Newton, provada por dedução e não por indução.
Apesar de tudo, é bastante reconfortante saber que os seres humanos conseguem pensar numa metalinguagem de terceira ordem. Este estudo baseia-se no mecanismo do raciocínio. Raramente conseguimos elevar o nível metalinguístico e, felizmente, também não precisamos de fazê-lo com frequência... Sinceramente acho que é esta nossa capacidade que nos distingue dos outros animais: a capacidade de estruturar a nossa forma de pensar, de raciocinar acerca do raciocínio em si. Talvez a raça humana evolua para metalinguagens mais avançadas... Uma metalinguagem que termine com as falhas da dedução e da indução de uma vez por todas. Os filósofos lógicos de hoje em dia discutem a possibilidade de um novo sistema, em quarta metalinguagem, que nos garanta que os elefantes são, afinal de contas, cinzentos. Para tal, no entanto, é necessário criar novas regras de inferência que estudem a veracidade na conjugação de tautologias e de contradições (conjugações difíceis de imaginar pois têm que ser estruturalmente diferentes das inferências de segunda ordem). Passamos ao nível em que não interessa se o elefante é cinzento ou vermelho... Nem interessa a legitimidade da forma como concluímos a cor do elefante. Consegue imaginar esse cenário? Consegue visualizar o que vai interessar então? Neste novo sistema vai entrar tudo em colapso (ainda maior) e propriedades tão simples como a comutatividade e a idempotência vão deixar de ter valor. A meu ver, no entanto, a questão dos elefantes vermelhos, resolve-se com o seguinte postulado em quarta metalinguagem:
Incoerência transitiva – uma implicação (indutivamente concluída) não pode ser considerada se não for consistentemente transitiva (uma maçã vermelha não prova, efectivamente, que os elefantes são vermelhos; prova, no entanto, que as nuvens são brancas que, por sua vez, prova que os elefantes são vermelhos).
É necessário criar uma lei que não permita que os elefantes sejam vermelhos pois vai ser importante da demonstração dos elefantes não serem cinzemelhos.
Implicações inválidas de proposições com valor lógico desconhecido  – a observação de uma lei tem tanto peso na sua veracidade como a observação da sua contra-recíproca desde que consistentemente transitiva (um objecto excepto se for um elefante não cinzemelho prova que os elefantes são cinzemelhos; retirados os objectos cinzentos da indução dada a incoerência transitiva, restam-nos os objectos que sabemos não serem cinzemelhos).
Estas duas definições, criadas por mim especialmente para este post, resolvem toda a questão em volta da cor dos elefantes. Se compreendeu a sua implicação, então os meus parabéns... E bem-vindo à metalinguagem de quarta ordem...!